- Sinopse
Cassius
Clay (Will Smith) era um grande lutador nos ringues de boxe e uma pessoa
inteligente fora deles, onde impressionava pelo seu fácil palavreado. Ele logo
se tornou uma das principais personalidades do esporte mundial nos anos 60,
principalmente após se converter ao islamismo, trocar seu nome para Muhammad
Ali e se recusar a lutar na Guerra do Vietnã.
Cinebiografia de um dos maiores esportistas de todos os tempos deixa a desejar pelo mau balançeamento de idéias.
Anunciado como uma das grandes promessas ao
Oscar de 2002, o filme sobre a vida de Muhammad Ali foi uma obra tão
pretensiosa quanto o personagem, mas com um resultado infeliz, assim
como o destino do mesmo. Ele conta a história de Cassius Clay, que
convertido ao islamismo, mudou o nome para Muhammad Ali, um dos maiores
lutadores de boxe dos EUA.
O filme mostra o início da carreira do lutador, as
conquista do título de campeão peso-pesado, a perda do título ao tentar
lutar contra o sistema - ele havia sido dispensado do serviço militar,
mas com a entrada dos EUA na Segunda Guerra, havia uma forte pressão
para ele se alistar como voluntário; por se negar a isso, tiraram-lhe o
título de campeão - e seu esforço para reconquistá-lo.
Não que o filme seja ruim, mas o enredo poderia ter
sido muito melhor aproveitado. O começo é muito bom, mostrando a vida do
personagem com uma interessante interação com o pastor militante Malcon
X - particularmente, acho as cenas de Malcon X as mais interessantes do
filme. Mas ainda assim de forma bastante morna e, o pior, do meio em
diante o filme passa de morno a arrastado, o que, nem é preciso dizer,
prejudica bastante o ritmo.
É complicado analisar o desempenho de um ator ao
interpretar um personagem real, ainda mais quando não se conhece bem a
biografia do personagem, mas não sei se a escolha de Will Smith para o
papel principal tenha sido a certa. Ele é um ator meio burocrático, às
vezes vai muita bem, às vezes mais ou menos, às vezes mal... E, em Ali, ele foi apenas razoável e bastante burocrático.
Do jeito que você vê o ator no começo do filme, vai
ser o jeito que ele estará no final. Independente de ele estar em um
momento feliz, apaixonado ou nervoso. Parece que o verdadeiro Muhammad
Ali era um homem arrogante, mas Will Smith não conseguiu nem ser
totalmente arrogante e nem simpático. Então, fica uma sensação de "tanto
faz o que acontecer com ele...", e isso prejudica a luta final, pois
como não se sente nem simpatia ou antipatia pelo personagem, apenas se
assiste, sem grandes emoções.
Outra coisa negativa é que se passam anos, mas não se
vê o personagem envelhecer um único dia. Nem mesmo um fio de cabelo
branco na cabeça. Mas como todo filme de boxe, Ali tem algumas cenas de
luta. Talvez elas também pudessem ser melhores aproveitadas, o que daria
uma maior movimentação ao filme, mas infelizmente lutas não são o
atrativo do filme, com exceção da última, que tem ótimas cenas, mas ela
demora tanto para acontecer que a única sensação que inspira é a pressa
de acabar logo.
No final, o filme mostra um resumo biográfico do
personagem após aqueles acontecimentos, suas conquistas, paixões, etc.
Mas ocultam que o ex-lutador atualmente sofre do mal de Parkinson - uma
grande falha para um filme com pretensões biográficas. Mas apesar valeu a pena!
Muhammad Ali | Homens que você deveria conhecer
Seria fácil falar de um atleta medalha de ouro nas Olimpíadas de Roma
em 1960, campeão mundial e defensor do título dos pesos pesados por
tantos anos, considerado por muitos especialistas o maior pugilista de todos os tempos.
Mostrar o número de vitórias, derrotas e títulos conquistados apenas
quantificaria a vida deste esportista que hoje sofre do Mal de Parkinson
– provavelmente desencadeado pelas pancadas sofridas enquanto lutava*.
Para falar de Muhammad Ali nós temos de ir um pouco além do esporte. Sua vida ajuda a entender um pouco das décadas de 1960 e 1970.
Clay ou Ali?
Muhammad Ali nasceu Cassius Clay em 17 de janeiro de 1942 e só em
1964 anunciou que havia se convertido ao islamismo e mudado de nome,
após vencer Sonny Liston e conquistar o título mundial pela primeira
vez. O mais engraçado era que Ali já tinha contato com a religião
islâmica há um certo tempo e gostava de ouvir o que o amigo Malcolm X
tinha a dizer sobre os ensinamentos de Alah, mas nunca admitiu
publicamente sua preferência religiosa antes de ser campeão do mundo.
Para saber mais sobre este assunto, pesquisem sobre Malcolm X e seu
mentor, Elijah Muhammad. Se eu fosse explicar essa história em detalhes o
texto ficaria gigante.
A amizade com Malcolm X e a conversão ao islã ajudam Ali a tomar uma
decisão que quase acabou com a sua carreira de boxeador: alistado no
exército em 1964, foi aceito em 1966, mas se recusou a atender ao chamado da USARMY para lutar no Vietnã.
Maluquice de Ali? Antipatriotismo? Ou simples vontade de aparecer,
como hoje em dia grandes esportistas mundiais adoram figurar em cadernos
de jornais e sites de fofocas? Nenhuma destas coisas. Talvez você não
tenha vivido a década de 1960 (eu não vivi), mas Ali não quis
“aparecer”. Talvez alguém tenha bradado em uma esquina um “antipatriota”
ao ver Ali andando na rua – e grande parte da opinião pública foi
contra sua recusa –, mas esta decisão de Ali foi mais que simplesmente
defender ou não as cores de seu país em uma guerra. Vamos raciocinar.
Ali nesta época já era bem famoso para o tempo dele, reconhecido
facilmente pelas ruas, com fãs espalhados por todo os EUA. Sua amizade
com Malcolm X não apenas o aproximou do islamismo como do Movimento
pelos Direitos Civis dos Negros – encabeçado por Martin Luther King e
transformado em uma luta nacional dos negros desde meados da década de
1950. Em 1966 os movimentos “Paz e Amor”, completamente contrários à
guerra do Vietnã, também já estavam rolando a todo vapor nos EUA.
Muhammad Ali realmente não queria ir à guerra. Além de não querer,
sua religião não permitia – nunca permitiu – que os fiéis tomassem
partido de lutas que não fossem convocadas em nome de Alah ou Maomé. Sem
querer (ou não), ele acabou dando um exemplo a favor da paz. Uma frase
de Ali que ficou famosa sobre sua recusa de servir ao exército no Vietnã
foi:
“I ain’t got no quarrel with them vietcong… They never called me nigger.”
[Eu não tenho problema algum com os vietnamitas... Eles nunca me chamaram de crioulo.]
Peitar a USARMY em um dos momentos mais sufocantes da história deste
corpo militar, enquanto boa parte da mídia ainda defendia com unhas e
dentes a presença do país em uma guerra que já estava bem cascuda para
os EUA… Pensando bem, Ali era maluco!
A propósito, conta a lenda que Ali, após voltar de Roma campeão
olímpico, teria jogado em um rio sua medalha depois de não ser atendido
em um restaurante, pois o local não atendia negros. Esta história nunca
foi 100% confirmada, mas o fato é que nas Olimpíadas de Atlanta, em
1996, Ali recebeu do COI uma nova medalha para substituir a original.
Toda decisão tem suas consequências
Ao recusar a convocação, Ali ficou preso por um tempo. A Comissão
Atlética de Nova Iorque suspendeu sua licença de boxe e retirou seu
título de campeão mundial. Julgado em 1967, Ali foi considerado culpado,
mas o caso chegou à Suprema Corte. Entre idas e vindas judiciais, Ali
ficou mais de quatro anos sem poder subir em um ringue.
Durante esse tempo forçosamente livre, fez diversas palestras em
escolas e universidades espalhadas pelos EUA, conversando com milhares
de jovens sobre a guerra do Vietnã, os direitos civis dos negros, suas
vitórias no boxe. Era um negro nascido em uma família pobre e mesmo
vencendo na vida com – literalmente – muita luta, era, de certa forma,
um ídolo perseguido pela opinião pública por desafiar a USARMY em nome
da paz.
Em 1970, enquanto os EUA estavam atolados na guerra até o pescoço e
levavam uma surra homérica de um monte de guerrilheiros de olhinhos
puxados, Leroy Johnson, senador pelo estado da Geórgia, conseguiu junto à
Comissão Atlética de Atlanta uma licença para Ali voltar a lutar no
estado. Foi questão de tempo para o monstro voltar aos ringues e a
comissão de Nova Iorque considerar a cassação de sua licença “uma
injustiça”.
Em 8 de março de 1971, em um Madison Square Garden lotado e com a luta transmitida para todo o país, após 15 rounds disputadíssimos,
Muhammad Ali venceu Joe Frazier, um patriota que declarou em entrevista
antes da luta que “teria ido ao Vietnã lutar pelos EUA se não fosse
pai”. Cá entre nós… assim até eu viro o Rambo!
Entre defesas de títulos, derrotas e vitórias, Ali ainda
reconquistaria o título mundial em uma grande luta contra George Foreman
– aquele mesmo do grill que faz coisas gordurosas – no Zaire, em 1974,
conhecida como “The Rumble in the Jungle” e transmitida para o mundo
todo.
Procurem um livro chamado A Luta, de Norman Mailer, e o documentário Quando éramos reis, de Leon Gast, lançado em 1996. Os dois retratam a luta do Zaire de forma excepcional.
Ali encerrou sua carreira em 1981, após uma derrota para Trevor
Berbick, já sem muita condição de lutar no mesmo nível de seus bons
tempos. Realmente era hora de parar. Hoje em dia Ali – presença máxima
do Hall da Fama do Boxe – contribui com trabalhos de caridade em várias
partes do mundo. Em Louisville está instalado o Muhammad Ali Center, onde podemos encontrar tudo sobre sua carreira e seus trabalhos sociais.
Em 2005 Ali recebeu do então presidente George W. Bush a Medalha
Presidencial da Liberdade, honraria concedida aos cidadãos
norte-americanos que contribuem de forma positiva para o país.
Texto extraido do Blog: http://papodehomem.com.br/
Trailer do Filme: Ali - 2001
Sonny Liston vs Cassius Clay (Original) 1964
Quando eramos Reis
Excelente Documentário