terça-feira, 25 de setembro de 2012

É Hora da Leitura: 1984


O livro 1984 é um romance distópico clássico do autor inglês Eric Arthur Blair, mais conhecido pelo pseudônimo de George Orwell. 
Terminado de escrever no ano de 1948 e publicado em 8 de junho de 1949, retrata o cotidiano de um regime político totalitário e repressivo no ano homônimo. No livro, Orwell mostra como uma sociedade oligárquica coletivista é capaz de reprimir qualquer um que se opuser a ela. 
A história narrada é a de Winston Smith, um homem com uma vida aparentemente insignificante, que recebe a tarefa de perpetuar a propaganda do regime através da falsificação de documentos públicos e da literatura a fim de que o governo sempre esteja correto no que faz. Smith fica cada vez mais desiludido com sua existência miserável e assim começa uma rebelião contra o sistema.
O romance se tornou famoso por seu retrato da difusa fiscalização e controle de um determinado governo na vida dos cidadãos, além da crescente invasão sobre os direitos do indivíduo. Desde sua publicação, muitos de seus termos e conceitos, como "Big Brother", "duplipensar" e "Novilíngua" entraram no vernáculo popular. O termo "Orwelliano" surgiu para se referir a qualquer reminiscência do regime ficcional do livro. O romance é geralmente considerado como a magnum opus de Orwell.



Documentário: 1984

7 tecnologias sinistras do livro "1984" que são uma ameaça na atualidade


O site Dvice preparou uma lista com sete tecnologias nascidas nas páginas do romance do escritor inglês e que, mais de meio século depois, ainda se constituem uma ameaça à privacidade e podem ser consideradas uma forma de controle social.


Teletelas espiãs

Em “1984”, quase todos os ambientes contavam com um dispositivo chamado “teletela”, que nada mais era do que uma espécie de TV que, de um lado, enviava imagens de propaganda para quem estava assistindo a ela e, de outro, servia como um instrumento de espionagem, captando tudo aquilo que a audiência estava fazendo.
 
Os televisores da atualidade não são espiões tão ativos quanto os descritos no livro, mas, se levarmos em consideração os tablets e notebooks, todos com suas câmeras embutidas, temos a sensação iminente de estarmos sendo vigiados. Além disso, recebemos mensagens publicitárias a todo instante e por todos os meios.


O Big Brother está de olho em você

Na obra literária, quem está por trás de todo esse controle é um “Grande Irmão”, conhecido como Big Brother. Essa “entidade superior”, na época, servia como uma metáfora de controle do governo sobre tudo aquilo que a população fazia.
 
Nos dias de hoje, na maioria das vezes não são os governos os grandes vilões, mas sim as corporações. Redes sociais e serviços de busca têm um controle total e absoluto sobre tudo aquilo que você pesquisa na internet. Essa informação pode ser usada contra você, criando novas ferramentas “viciantes” que possam induzi-lo a comprar mais ou passar mais tempo diante da tela do PC.


A polícia do pensamento

Se por qualquer razão alguma coisa fugisse do controle do Grande Irmão, ele poderia contar com uma série de aliados para denunciar pessoas que tivessem feito alguma coisa errada ou contra o sistema. Era a chamada polícia do pensamento.
 (Fonte da imagem: iStock)
Com câmeras de vigilância em todos os lugares, hoje é praticamente impossível fazer qualquer ação sem que alguma imagem sua seja gravada em algum lugar. Repare em quantos acidentes de trânsito, por exemplo, você viu nos últimos anos que, na hora de descobrir quem era o culpado, alguma imagem de câmera de segurança acabou sendo encontrada e denunciou o infrator. Estamos sendo vigiados em todos os lugares.

“Novilíngua”, a nova língua mundial

Para controlar a história, o governo criou uma nova língua mundial, substituindo palavras como “maravilhoso” e “esplêndido” para “bom mais”, fortalecendo assim a chamada “novilíngua”. Hoje, não podemos afirmar que exista necessariamente uma forma de controle sobre a língua, mas sabemos que as redes sociais e, principalmente, as mensagens de texto mudaram a forma como escrevemos.
 
Assim, c vc escreve de frma resumida nos sms, já dev ter percebido q, em alguns casos, qndo escreve de frma correta é visto com desconfiança por outras pessoas. A nova língua mundial da internet é recheada de expressões como “LOL” e “OMG”, e não entender qualquer uma delas pode significar a sua “exclusão” da vida digital.

Controle do passado, do presente e do futuro

“Quem controla o passado controla o futuro. Quem controla o presente controla o passado”. Um dos lemas políticos lançados no livro mostrava que alguns personagens passavam os dias modificando registros históricos em jornais e livros, modificando assim a história.
Boa parte das informações que consumimos hoje vem de fontes online que, nem sempre, são muito confiáveis. A Wikipedia, por exemplo, pode ser editada por qualquer pessoa, e a alteração de um detalhe histórico pequeno pode passar despercebida por muitos leitores, sendo levada adiante como verdade.

Privacidade nas compras? Não, obrigado!

Quantas vezes por dia você paga as suas compras em dinheiro? Certamente, se você mora em uma grande cidade, na maioria das vezes você utiliza o cartão de débito ou de crédito para efetuar as suas compras. Todas essas transações, quer você queira ou não, deixam um rastro que pode dizer muito sobre a sua personalidade.
 
Esse aspecto pode também ser encarado com uma alusão à obra de George Orwell, já que em “1984” as pessoas tinham as suas compras limitadas, podendo dispor de apenas alguns itens de extrema necessidade e descartando alguns supérfluos. A tecnologia NFC promete diminuir ainda mais o uso do papel moeda nas transações.


Teletelas nas ruas

Se dentro de nossas casas as televisões, os tablets, os notebooks e os PCs se encarregam de nos trazer mensagens publicitárias, nas ruas o mesmo já acontece. Grandes painéis de propaganda, em alguns casos animados, servem como grandes transmissores de informações, o que nos induz a adquirir mais produtos.
No mundo criado por George Orwell, essas mensagens eram recheadas de propagandas de guerra, mas o conteúdo, nesse caso, não importa muito. No final das contas, estamos condicionados a receber informações 24 horas por dia e sentimos falta quando isso não acontece. 

Fonte: Dvice 



Filme: 1984 

"Quem controla o passado
controla o futuro;
Quem controla o presente
controla o passado."


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Misturar igreja com política “extrapola o ideario republicano”?

Na entrevista abaixo,  Ricardo Mariano observa que a Universal está envolvida com a política desde o final da década de 1980, participando diretamente de campanhas majoritárias e também para vereadores e deputados estaduais e federais, além de patrocinar a formação de partidos. A principal novidade deste ano, segundo o especialista, é o acirramento da disputa política, partidária e midiática entre evangélicos e carismáticos, o que resulta na ocupação religiosa da área pública num ritmo cada vez maior. Na avaliação dele, é um quadro que contraria o ideário republicano, que pressupõe a separação entre igreja e Estado, entre religião e política.




Mariano é doutor em sociologia pela USP e autor do livro "Neopentecostais: Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil." Ele coordena o Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.



A seguir, os principais trechos da conversa com o estudioso extraído do site "Portal Vermelho" realizada pelo jornalista Roldão Arruda.


Roldão Arruda: Como o senhor vê o enorme destaque dado às igrejas evangélicas nas eleições deste ano?

Ricardo Mariano: O ingresso organizado dos evangélicos na política não é novo. Desde a segunda metade da década de 1980 ficou evidente o interesse desses religiosos pela política partidária, muito ávidos por recursos públicos, emissoras de rádio e TV, barganhas e alianças com candidatos e partidos e governantes. Eles participaram dos debates da Assembleia Constituinte, ajudaram o José Sarney a ampliar o mandato de quatro para cinco anos – em troca de concessões de emissoras e rádio e verbas públicas. No segundo turno das eleições de 1989, Fernando Collor de Mello conseguiu o apoio esmagador dos pentecostais contra a candidatura lulopetista. De lá para cá, a instrumentalização recíproca entre esses grupos, sobretudo pentecostais e neopentecostais, com candidatos, partidos e governantes tem se intensificado.

Roldão Arruda: Em 1989 eles fizeram campanha contra Luiz Inácio Lula da Silva.
Ricardo Mariano: No segundo turno. No primeiro, como existiam vários candidatos, dentro de um leque variado, que incluía Lula, Collor, Mário Covas, Ulisses Guimarães, Leonel Brizola, o ativismo eleitoral dos evangélicos não apareceu. Nenhum candidato conseguiu galvanizar seu apoio. No segundo turno, porém, havia o temor, estimulado pela candidatura do PRN (extinto partido de Collor), de que Lula, numa aliança diabólica com o setor progressista da Igreja Católica, iria tolher a liberdade religiosa. Falava-se que os templos seriam transformados em armazéns e que os evangélicos seriam perseguidos e fuzilados em paredões.
Roldão Arruda: Esses boatos tiveram repercussão nas outras vezes em que Lula se candidatou?
Ricardo Mariano: Sim. O mesmo temor apareceu em 1994 e 1998. Foi só em 2002, no segundo turno da eleição presidencial, que o PT conseguiu apoio evangélico pra valer entre igrejas pentecostais. A Igreja Universal do Reino de Deus declarou apoio a Lula, enquanto a Convenção Geral da Assembleia de Deus do Brasil, do Belenzinho, em São Paulo, ficou ao lado de José Serra (PSDB). O líder da Assembleia era malufista, mas, quando Paulo Maluf passou a ter presença rarefeita nas disputas eleitorais, ele passou a apoiar os candidatos do PSDB. Tem feito isso sistematicamente. Nunca apoiou o PT, nem vai apoiar.

Roldão Arruda: Qual a principal novidade que o senhor detecta em anos mais recentes?
Ricardo Mariano: A novidade é que a ala carismática católica agora também está empenhada na eleição de candidatos com identidade católica. Uma vez que o Vaticano proíbe o lançamento de candidaturas de padres e bispos, leigos estão sendo estimulados a se candidatar com plataformas baseadas na moral e na doutrina social da igreja. O crescimento pentecostal – do ponto de vista demográfico, institucional, partidário, político e midiático – levou a Igreja Católica a uma contraofensiva, a uma concorrência tanto religiosa, quanto midiática e política. Essa concorrência entre pentecostais e católicos estimulou a ocupação religiosa da esfera pública.

Roldão Arruda: Em que momento o senhor detecta o início dessa concorrência?
Ricardo Mariano: Até o início dos anos 90, a Igreja Católica não tinha emissoras de TV, muito menos redes. Mas, a partir de 1993, com a criação da Rede Vida, o quadro mudou: hoje os católicos têm três redes nacionais de TV e um número crescente de emissoras. Vale notar que a Igreja Católica já tinha a maior rede de rádios no País. Houve, portanto, um estímulo ao avanço na mídia eletrônica, sobretudo na TV.

Roldão Arruda: E isso extrapolou para a política?

Ricardo Mariano: Sim. Há um ativismo crescente nas eleições e na política partidária, ainda que, tradicionalmente a Igreja Católica se apoie mais em seu lobby para a defesa de interesses institucionais e morais.


Roldão Arruda: Como vê essa ocupação religiosa da esfera pública?

Ricardo Mariano: Olhando as principais ideologias do século 19, o socialismo, o positivismo, o liberalismo, o republicanismo e outras, observamos que todas propõem a autonomia do Estado e da política em relação à religião. O socialismo e o positivismo previam, inclusive, o fim da religião. O liberalismo e o republicanismo sempre tiveram como meta o estabelecimento de uma autonomia recíproca entre Estado e igreja, religião e política. Havia um esforço para a criação de valores laicos, seculares, em torno da cidadania, da república, das liberdades democráticas.

Roldão Arruda: E o caso brasileiro?
Ricardo Mariano: Nossa república também nasceu sob esse signo. O modelo que adotamos foi um mix dos modelos francês e americano, com separação entre igreja e Estado. Até o fim do Império, o catolicismo era a religião oficial do Estado e também era tutelada por ele, o que significa que não tinha plena liberdade de ação. Com a constituição republicana ela passa a ter liberdade de ação e adquire um poder imenso, na Primeira República. Para a Constituinte de 1934 foi criada a Liga Eleitoral Católica, que elegeu muitos representantes da própria igreja. Em seguida, no texto constitucional, ela conseguiu uma série de privilégios. Um dos mais importantes foi o princípio de colaboração recíproca entre igreja e Estado em benefício do chamado bem comum. Isso foi mantido na Constituição de 1988, embora com outra formulação. No mesmo artigo em que aparece a separação entre igreja e Estado, vedando a concessão de subsídios e a realização de alianças com grupos religiosos, aparece esse princípio da colaboração. Nos anos 30, 40, 50 e outros, esse princípio de colaboração recíproca significou sobretudo uma série de subsídios para escolas católicas, hospitais, obras assistenciais.

Roldão Arruda: Não havia pluralismo religioso.
Ricardo Mariano: Nas últimas décadas, sobretudo a partir dos anos 80, é que o pluralismo religioso passa a vigorar de fato no Brasil e a Igreja Católica se vê tendo que competir no mercado religioso. Com o avanço pentecostal, os privilégios concedidos aos católicos começam a ser contestados.

Roldão Arruda: Não há reação a esse avanço do religioso sobre o público?
Ricardo Mariano: Há uma contestação crescente de setores laicos ou seculares da sociedade brasileira, envolvendo parte da imprensa, educadores, cientistas e ateus. Eles são minoritários mas estão se organizando. Os movimentos feministas e homossexuais aparecem entre os principais rivais dessa crescente ocupação religiosa da esfera pública, sobretudo no campo político partidário. Não é um movimento articulado, que junte todos esses grupos e movimentos, mas há uma grita crescente, defendendo sobretudo a laicidade do Estado. O mote central de todos os contestadores é a defesa da laicidade.

Roldão Arruda: Em São Paulo, nos últimos dias, surgiram notícias de igrejas transformadas em comitês eleitorais.
Ricardo Mariano: Isso não é de agora. Há algum tempo temos visto a transformação de templos em comitês eleitorais e fundação de partido por igreja. O Celso Russomano, em São Paulo, é filiado ao PRB, partido que foi criado pela Igreja Universal. O presidente do partido é da Universal e toda a base de cabos eleitorais dessa candidatura é de gente da Universal. São fiéis, pastores, obreiros da Igreja. É um negócio impressionante: você tem um igreja que criou um partido, que tem uma concessão pública, uma rede de TV, a segunda mais importante do País, apoiando um candidato que tinha um programa nessa TV e que foi lançado por esse partido.

Roldão Arruda: Como vê isso?
Ricardo Mariano: Legalmente, as igrejas estão proibidas de dar apoio eleitoral. Mas isso tem sido feito. A Igreja Universal apoiou o Collor em 1989 e teve problemas com a Justiça Eleitoral. Isso ocorreu também nas campanhas de Crivella (Marcelo Crivella, bispo da Universal, atual ministro da Pesca), no Rio, para prefeito e governador. Não é de agora que a Universal funciona como comitê, às vezes para candidaturas majoritárias, como nos casos de Collor, Crivella, Russomano, mas, sobretudo, para seus candidatos a vereador, deputado estadual e federal. A Universal elege uma bancada própria, composta por representantes de seu partido e de outras legendas. Quando se pensa na ideia de República, que pressupõe a separação entre igreja e Estado, entre religião e política, essa mistura que estamos vendo extrapola a lei e o ideário republicano.