domingo, 23 de dezembro de 2012

Dica de Filme: O Leitor


Inspirado no romance homônimo, de Bernhard Schlink, o longa-metragem começa na Alemanha em reconstrução do pós-guerra. Michael Berg (David Kross) é um jovem de 15 anos que no caminho para casa passa mal e é ajudado por uma mulher (Kate Winslett). No fim do seu período de convalescência, ele volta à casa dela para agradecer e os dois acabam juntos, na cama. O romance dura o verão e, sempre muito reclusa e até mesmo dura, Hana só lhe pede uma coisa antes do sexo, que ele leia para ela. Daí o título do livro e do filme.
Quando - sem avisar - ela some sem deixar pistas, o garoto sofre e amadurece. Passam-se os anos e agora ele é um estudante de direito. Orientado por um dos seus professores ele e seus colegas vão acompanhar o processo de ex-oficiais da SS que estão sendo julgadas pela morte de prisioneiras judias. E sentimentos que ele achava que estavam no passado voltam para lhe assombrar.Porém, mais do que o romance entre os dois, a obra tenta mostrar ao público o que foi ter nascido na Alemanha depois da Segunda Guerra Mundial, todas as discussões éticas que vêm dessa época e os traumas também. 
Quando um rofessor de direito diz que as sociedades se organizam por leis e não por conceitos morais, entrega a chave para se começar a destrinchar o que realmente há de profundo em "O Leitor" do diretor inglês Stephen Daldry. 
O filme tem um olhar atento e menos maniqueísta, absolutamente subjetivo sobre a responsabilidade moral de cada um. E a pergunta que subjetiva essa questão e lhe dá a dimensão real de sua complexidade da vida cotidiana é: "O que você teria feito no meu lugar?"
Assim essa pergunta é a linha divisória entre o conforto da acusação de quem não estava lá e a realidade atroz de quem estava. Ainda que nada, em qualquer instância, justifique o horror promovido pelo regime nazista e do Holocausto, tampouco se pode julgar àqueles que, com maior ou menor incisão, participaram dele lançando mão apenas de qualquer superficialidade simplista e maniqueísta.
Durante o julgamento de membros da SS, nos anos 60, Michel vê Hanna assumir sozinha a autoria de um documento que responsabilizar pela morte de 300 judeus. Ela só assume esse fardo por vergonha de revelar um segredo íntimo. Preferir ser punida.  Michel agora estudante de direito sabe do segredo e se vê no dilema de intervir no julgamento em defesa de uma acusada de nazismo, ou calar-se e deixar que ela assuma uma culpa que ele sabe não ser dela.
Pode a mulher amada ser um monstro? Quais são os limites do dever? Certos segredos devem ser mantidos? Essas são alguns dos questionamentos levantados pelo longa. Para Hanna, era mais importante ter seu segredo guardado do que se responder pela morte de inocentes?
A no filme toda essa complexidade, no que tange ao dever ou à responsabilidade moral, é sem dúvida o ponto forte do filme "O Leitor". Fazendo assim um contraponto com o campo filosófico, psicológico e principalmente histórico.
As feridas do povo alemão de lidar com o estigma do nazismo é provocante no filme . Pois como uma nação pode se recuperar de uma tragédia como o Holocausto? Como todo um país pode se esquecer de que, em função de um projeto nacionalista exaltado de recuperar o brilho do passado, acabou instalando um regime totalitário e racista como o nazismo e consequentemente o extermínio de mais de seis milhões de pessoas? 
Assim o advogado melancólico Michael representaria metaforicamente o povo alemão ao sofre da incapacidade de fazer aquilo que Hanna revela fazer tão bem: Evitar pensar no passado.
E, com isso, Michael vive eternamente a angústia de saber que, como tantos alemães, cometeu o terrível pecado de saber e nada fazer a respeito, sendo omisso e ao mesmo tempo cúmplice. Seja com o segredo de Hanna ou pelas atrocidades promovidas pelo nazismo. Fica a reflexão e a polêmica para a história.



Trecho do Filme:

Trailer do Filme "O Leitor"