A história é aparentemente
simples, mas a maneira com que Francis Ford Coppola, o diretor, consegue
conduzir a trama é inteiramente deliciosa, beirando a perfeição em
algumas cenas. A relação familiar é ponto de refúgio para a violência
durante toda a produção (cenas de casamento, batizado e relações
familiares são entremeadas de tiroteios, assassinatos, emboscadas etc). A
dualidade entre frieza e amor é ponto alto na história, fazendo com que
nos compadeçamos e odiemos ao mesmo tempo os protagonistas.
Todo o poder de O Poderoso Chefão é conquistado, também, graças às interpretações maravilhosas de Marlon Brando (que conquistou seu segundo Oscar de Melhor Ator [o primeiro tinha sido em Sindicato de Ladrões]) e de Al Pacino (que praticamente inicia sua carreira com esse papel). A trilha sonora é inesquecível, sendo lembrada por todos os adoradores do cinema até hoje. Além disso, os diálogos são inteligentíssimos, com algumas falas memoráveis, e o filme é repleto de seqüências cênicas antológicas.
Os 40 Anos de um Clássico do Cinema
No final dos anos 60, Francis Ford Coppola estava no início de sua carreira quando conseguiu assumir a direção da audaciosa produção Poderoso Chefão (The Godfather, 1972, EUA), da Paramount Pictures. O filme seria uma adaptação do romance do escritor Mario Puzo,
que estava em franca ascensão quando o drama começou a ser
produzido. Enquanto o livro se passava nas décadas de 40 e 50, o
filme seria ambientado nos anos 70 para baratear custos. A escolha de
Coppola deu-se pela idéia de que pela sua juventude, ele seria rápido,
barato e supostamente manipulável.
Com o orçamento inicial de US$2,5 milhões, Coppola começa a
trabalhar avidamente no romance, lendo e relendo o livro diversas
vezes. Cada vez que o fazia, adicionava dezenas de notas de rodapé
para orientar seu filme. Quais as cenas que deveria evidenciar, quais
os momentos que seriam armadilhas e o que fazer para evitá-las, qual
o primeiro sentimento que teve quando leu aquela passagem do livro e
como transporta-lo para as telonas... tudo isso estava compreendido
nas anotações do cineasta. A partir daí, começou a reescrever a
adaptação que havia sido feita por Mario Puzo. Entretanto, estava
preocupado. A cada dia a popularidade do livro crescia, enquanto ele
continuava um mero desconhecido. Começou a discutir com os
produtores, insistindo que o filme deveria se passar em sua época
original e acabou convencendo-os. Mas será que conseguiria fazê-lo?
Essa era exatamente a mesma dúvida dos produtores e executivos da
Paramount.
Com o roteiro pronto, Coppola começou a sugerir nomes para
os papeis principais. Assim começaram também seus problemas com a
produtora. "Se você disser o nome de Marlon Brando mais uma vez, está despedido",
disse o presidente da Paramount na época para o diretor. Se Brando
não era aceito (por sua notória excentricidade), o desconhecido Al Pacino, que até então só havia feito teatro, era considerado uma piada de mau-gosto pelos executivos.
O problema é que Coppola não conseguia imaginar outro ator no papel de Michael Corleone. Tinha que ser Al Pacino. "Seu rosto era perfeito", afirma o diretor sobre a escolha. Insatisfeitos, os produtores pediram uma enorme quantidade de testes. Robert de Niro, James Caan (o preferido da Paramount, que ficou com o papel de Sonny Corleone, irmão de Michael), Martin Sheen, Robert Redford e mais centenas de candidatos foram testados para o papel.
Só que no meio de cada nova leva de testes que enviava para a
Paramount, Coppola sempre colocava um novo teste de Pacino. No final
o diretor acabou vencendo pelo cansaço. Al Pacino seria Michael
Corleone. No entanto, um espião o acampanharia durante todas as cenas
e, ao menor descontentamento dos produtores, o ator seria despedido e
substituído. "Eu sei que não sou desejado", disse Pacino na época.
Fazer com que aceitassem Marlon Brando para o papel de Don Vito Corleone
foi um pouco mais fácil. Apesar da fama de encrenqueiro e de estar
sempre atrasado, Coppola garantiu que Brando trabalharia sério, sendo
um verdadeiro padrinho para ele dentro da produção. Obviamente que o
teste de cena do ator também ajudou - e muito. Foi dele a ideia das
próteses nas bochechas para que ficasse com aquela aparência estranha
e a voz arrastada.
As filmagens
No começo das filmagens, Coppola era ridicularizado por toda
a equipe de produção. Ninguém, além dos atores, acreditava nele ou
em suas ideias. O orçamento inicial foi rapidamente estourado,
passando para US$6,5 milhões. Sem dinheiro, muitas das cenas foram
feitas por equipes com parcos recursos técnicos e de pessoal. Coppola
teve que contar com a ajuda de muitos amigos, como George Lucas, para que tais sequências pudessem ser feitas. Com tantos problemas, o diretor esteve prestes a ser
demitido diversas vezes durante a primeira semana de filmagens.
Quando viu que a situação havia se tornado insustentável atuou como
um verdadeiro Don. Demitiu diversos profissionais da equipe,
seus traidores junto aos executivos da Paramount, o que causou um
rebuliço na produção e postergou sua saída por mais alguns dias.
Nesse período aproveitou para refazer algumas cenas e acabou
mostrando que seria capaz de dirigir o filme.
O Poderoso Chefão
The Godfather (no original) tornou-se um épico,
recheado de momentos inesquecíveis do cinema. Cenas como o tiroteio
na barraca de frutas, o assassinato no restaurante, Don Vito no
canteiro de tomates, toda a seqüência de Michael na Sicília e muitas
outras, estão vivas na memória dos cinéfilos mesmo 40 anos depois de
seu lançamento. O filme conta a primeira parte da saga da famiglia Corleone. Comandada pelo respeitado Don Vito Corleone
(Marlon Brando), a família mafiosa controla os negócios ilegais na
Nova York dos anos 40 e 50, em constantes conflitos com outros grupos
e dons.
Don Vito tem nos filhos Sonny (James Caan), Fredo (John Cazale), Connie (Talia Shire) e Michael (Al Pacino) e na honra da família suas maiores motivações. A maneira como gerencia os negócios (bussinesse, no melhor inglês com sotaque italiano) com o auxílio dos capos (generais da máfia) e de seu consigliere (Rubert Duvall) é mostrada em detalhes elaborados.
Entretanto, a gerência dos negócios pelos mafiosos não se
resume apenas a contas e pagamentos. Assassinatos são parte constante
desse dia-a-dia. O problema é que Coppola não gosta de violência...
fato que levou o estúdio a considerar a contratação de um diretor
específico para as cenas de ação que envolvessem mortes, tiroteios e
explosões. Receoso que isso pudesse acontecer, Coppola descobriu
então uma maneira muito interessante de lidar com os aspectos mais
pesados da máfia.
O diretor passou a agregar elementos sutis que distraem a
audiência (e talvez ele mesmo) da barbárie das cenas mais fortes.
Coisas como laranjas rolando no asfalto durante um tiroteio, um pé
saindo pelo para-brisa durante um estrangulamento, formas bizarras de
assassinatos, a desobediência aos princípios dos assassinato e muitas
outras, foram incorporadas para dar mais textura à violência.
O resultado de tanto esforço foi um filme grandioso,
ricamente ilustrado em todos os sentidos. Um sucesso de crítica e de
público que acabou rendendo três Oscar - melhor filme, roteiro e ator
(Marlon Brando, que se recusou a receber o prêmio por detestar
Hollywood) e encontrou seu espaço entre os clássicos imortais do cinema.
A aceitação de O Poderoso Chefão acabou fazendo com que Coppola assumisse a direção e o controle total do segundo filme da série - O Poderoso Chefão Parte II, desta vez com liberdade criativa e US$11 milhões de orçamento.
Coppola, de camisa listrada, ao centro, dirige Marlon Brando, à sua direita, na sequência do casamento de Connie.
"O Poderoso Chefão", vencedor de três prêmios do Oscar em 1972 (melhor filme; ator e roteiro adaptado) me conquistou na primeira cena. Quando Salvatore Corsitto, na pele de Amerigo Bonasera, pronunciou "I believe in America"
(Eu acredito na América), percebi estar diante de algo diferente.
Enquanto Bonasera, contava
a história da filha "desonrada" por um americano, eu mal sabia que
minutos me separavam de ver Marlon Brando em uma das maiores atuações da
História.
Um das melhores cenas do Poderoso Chefão (Parte 1)
Don Corleone se preparando para cena
Faltou o Oscar de Trilha Sonora
Um Marco na História do cinema
As origens da Máfia
Na Itália existem diversas máfias, sendo mais conhecida a "Cosa Nostra" (em português "nosso assunto" ou "nossa coisa"), de origem siciliana. A Camorra, napolitana, e a 'Ndrangheta,daCalábria são outras conhecidas associações mafiosas.
A Máfia surgiu no sul da Itália na época medieval. Seus membros eram lavradores arrendatários de terras pertencentes a poderosos senhores feudais. Mas eles pretendiam dividir essas terras e, para isso, começaram a depredar o gado e as plantações. Quem quisesse evitar esse vandalismo deveria fazer um acordo com a máfia. Da Itália, a indústria da "proteção forçada" se espalhou para o mundo inteiro, em especial para os Estados Unidos. O filme The Godfather conta a história do crescimento da máfia nos EUA.
A palavra "mafia" foi tirada do adjetivo siciliano mafiusu, que tem suas raízes no árabe mahyas, que significa "alarde agressivo, jactância" ou marfud, que significa "rejeitado". Traduzido livremente, significa bravo. Referindo-se a um homem, mafiusu, no século XIX, significava alguém ambíguo, arrogante, mas destemido; empreendedor; orgulhoso, de acordo com o acadêmico Diego Gambetta.
De acordo com o etnógrafo siciliano Giuseppe Pitrè, a associação da palavra com a sociedade criminosa foi feita em 1863 com a peça I mafiusi di la Vicaria (O Belo Povo da Vicaria) de Giuseppe Rizzotto e Gaetano Mosca, que trata de gangues criminosas na prisão de Palermo. As palavras Máfia e mafiusi (plural de mafiusu) não são mencionadas na peça e foram, provavelmente, inseridas no título para despertar a atenção local.
A associação entre mafiusi e gangues criminosas foi feita através da associação que o título da peça fez com as gangues criminosas, que eram novidade nas sociedades siciliana e italiana àquela época. Consequentemente, a palavra "máfia" foi criada por uma fonte de ficção vagamente inspirada pela realidade e foi utilizada por forasteiros para descrevê-la. O uso do termo "máfia" foi posteriormente apropriado pelos relatórios do governo italiano a respeito do fenômeno. A palavra "mafia" apareceu oficialmente pela primeira vez em 1865 num relatório do prefeito de Palermo, Filippo Antonio Gualterio.
Leopoldo Franchetti, um deputado italiano que viajou à Sicília e que escreveu um dos primeiros relatórios oficiais sobre a máfia em 1876, descreveu a designação do termo "Mafia": "o termo máfia encontrou uma classe de criminosos violentos pronta e esperando um nome para defini-la e, dado ao caráter e importância especial na sociedade siciliana, eles tinham o direito a um nome diferente do utilizado para definir criminosos comuns em outros países."
O Filme O Poderoso Chefão é uma adpatação do livro de Mario Puzo de 1969
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