sexta-feira, 8 de junho de 2012

É hora da Leitura: Fahrenheit 451 (Ray Douglas Bradbury)






  


Imaginem um mundo onde ter um livro é um crime e onde a função dos bombeiros é queimá-los. Onde "pensar" e "imaginar" são vistos como coisas inúteis. Onde todas as pessoas são iguais, vêm os mesmos programas na tv e onde todos têm a ilusão de serem felizes. É este cenário que nos apresenta o livro Fahrenheit 451, uma das obras mais conhecidas na categoria da distopia, onde se inserem igualmente 1984 (George Orwell), Admirável Mundo Novo(Aldous Huxley) ou A Laranja Mecânica (Anthony Burgess).Fahrenheit 451 foi publicado pela primeira vez em 1953, como forma de crítica à sociedade norte-americana da época. O título do livro refere-se à temperatura, em graus Fahrenheit, a que os livros ardem por completo.

A história apresenta-nos o bombeiro Guy Montag, que, tal como todos os outros, tem a ilusão de ser feliz. Até que conhece a jovem Clarisse, que é uma rapariga diferente de todas as outras pessoas, que pensa por ela própria e que gosta de observar as pequenas maravilhas da natureza. Clarisse é o pretexto para acordar a semente de liberdade que Montag tinha dentro de si. e que o vai levar numa cruzada contra o sistema implantado, cujo estereótipo de cidadão se materializa, por exemplo, na sua esposa Mildred, mais uma ovelha no rebanho, completamente fútil e desinteressada.
 
 
   

Este livro do fabuloso escritor Ray Badbury, se encontra nas categorias das distopias. Em geral associadas ao gênero da "ficção científica", as distopias são a descrição de um lugar fora da história, em que tensões sociais e de classe estão aplacadas por meio da violência ou do controle social. Como o próprio nome já diz, a distopia é o contrário da utopia, ou seja, uma "utopia negativa". Este clássico de Ray Bradbury foi filmado pelo genial diretor francês François Truffaut em 1966, com Oscar Werner no papel principal, Fahrenheit 451 é não só uma crítica à repressão política mas também à superficialidade da era da imagem, sintomática do século XX e que ainda parece não esmoecer.

 

Opinião

Depois de ler, hoje em dia, este velho livro de Bradbury, é impossível não vermos à nossa volta os milhões de Mildreds que enchem as nossas ruas, demasiado fracas para enfrentar a complexidade do mundo que as rodeia, refugiando-se em telenovelas, big brothers, A Fazenda e demais programas de vida falsificada  e telejornais de um
jornalismo que, no lugar de informar, as mais das vezes desinforma.

E os livros não são queimados, mas são deixados a ganhar pó nas prateleiras das livrarias, com excepções que muitas vezes são também elas, veículos promotores de ignorância e incultura, fazendo dos livros mais um dos instrumentos ao serviço dos bombeiros, do mundo real, instrumentos bem mais subtis que os usados no mundo
inventado, não previu o futuro nos seus mínimos detalhes, mas apesar disso Fahrenheit 451 é um terrível espelho dos tempos que vivemos. Um livro intemporal. Um livro que fica.

 

 Ray Bradbury, um escritor de ideias

O escritor norte-americano Ray Douglas Bradbury, morto dia 6, aos 91 anos, de causas desconhecidas, viajou pela literatura como um grande aventureiro. Ele se dizia um “escritor de ideias”, não de ficção científica, como ficou conhecido após criar sucessos como Crônicas Marcianas (1950), O Homem Ilustrado (1951), ou o romance Farenheit 451 (1953), este transformado em filme por François Truffaut em 1966. Seu método consistia em associar palavras a ponto de lhes dar uma história inteira, como explicou certa vez no documentário The Illustrated Man. O que viesse como consequência era o inesperado, mas também o que morava dentro dele.
Ray Bradbury, sempre ligado ao público
Toda a sua escrita era marcada por esse método associativo, algo assemelhado ao da poesia, aquela com a qual trabalha um Manoel Barros, no Brasil. Em Bradbury, um escrito sempre começava por uma palavra, digamos “berçário”, conforme explicava naquele documentário: “Datilografo a palavra em minha máquina, não sei por quê. E imagino como seria esse berçário. Do passado, do presente? Do futuro. Em que país? No Polo Norte, na África? E então começo a construir um ambiente tridimensional. Você põe as crianças naquele lugar, seus pais, relaciona-os  com o mundo. De repente, você voa apenas porque ousou colocar as palavras no papel. Nem sabia que a história estava com você, mas continua a escrever”.
Nadava em bom humor. Dizia divertir-se com as ideias. Melhor dizendo, brincava com elas: “Não sou uma pessoa séria e não gosto de gente séria.” Sua disposição para falar ao público durou até o fim. Em 1955, casado, pai de quatro meninas, foi à televisão para que Groucho Marx o desafiasse no show You Bet Your Life. Groucho não o conhecia, mas ele, então com 35 anos, já escrevera seus livros mais importantes e roteirizara Moby Dick, de John Huston. “O que você faz, Ray?”, pergunta-lhe Groucho. “Sou um escritor (a writer).” Groucho, confundindo writer com rider (piloto): “De motocicleta?” Ray esclarece a diferença de ofícios, soletrando a palavra writer. E Groucho: “Muito confortante que estejamos diante de um escritor que saiba soletrar”.
Desinteressado em que somente o público da FC o distinguisse, Bradbury escreveu fantasias científicas sem preocupações de verossimilhança. Em sua Marte, era possível respirar e viver dos sonhos. E ele não imaginava um mundo sem bibliotecas. Em Farenheit 451, o protagonista, um bombeiro, faz as fogueiras onde os livros, objetos condenados, devem ser destruídos. Muitos leram esta ficção como uma condenação ao autoritarismo político. Não Bradbury, o livre: “Minha ideia era alertar contra os males da televisão”.

Rosane Pavan - Revista Carta Capital



 

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